ARMANDO ZOLA
|
|
|
Coisas de lá e de cá
|
|
OPINIÃO | Acaso volte o jogo e o vício, deverá ser participada a situação
|
|
A guerra continua. Está presente no espírito de quase todos. Vai percorrendo, degrau a degrau, a sua íngreme escalada, aproximando-nos a todos, cada vez mais, do topo. E do abismo. Há pouco mais de 60 anos, estivemos assim também. Era lá longe, na remota Cuba. Havia menos informação e também, sobre o tema, apesar de tudo, apesar da censura, muito menos inverdade e despudorada propaganda - diz-se, de resto, que, numa guerra, o que primeiro sofre é a verdade e os civis - mas, mesmo assim, menos informadas, as pessoas - novos e velhos - afligiam-se, tinham medo. Medo da hecatombe nuclear que esteve próxima. Hoje, de um lado e de outro, talvez inebriada por tão inquinada e avassaladora propaganda, à generalidade das pessoas, essa possível hecatombe não parece preocupar. Parece antes aguardar-se, com indisfarçável frenesi e sem receio, o resultado definitivo e favorável da contenda, como se de uma disputa desportiva se tratasse, para poder celebrar a vitória e festejar com o nosso "time". Aproveitando-se também desse ambiente, os mais assanhados "falcões", quase sempre senhores da guerra e das poderosas indústrias militar e das energias, com a colaboração empenhada, por vezes estouvada, de suas "pombas" e "peões de brega", pressionam os decisores para que, sem demora, se ponha toda a "carne no assador". É a loucura! Esperemos que prevaleça um mínimo de bom senso. Para que não acabemos todos pulverizados, em torresmos, ou gaseados caminhando para o fim em lenta e desesperada agonia. Não sendo por nós, que o seja ao menos por todos aqueles que têm toda, ou quase toda a sua vida por viver e são inocentes em tudo isto.O CLUBE Clube é a designação por que é mais conhecida a Associação dos Amigos de Arouca, denominação pouco apropriada, deve dizer-se. Associação constituída um pouco antes de meados do século passado, era, em muito, o reflexo daqueles tempos, em Arouca. Os seus Estatutos proibiam a adesão de mulheres e numa sociedade socialmente tão estratificada como era ainda a da época, frequentaram as suas instalações, ao longo de largos anos, sobretudo, médicos, advogados, também juízes e delegados de procurador da República (homens, que mulheres também não podiam ser magistradas), a pequena elite local dos vários escalões da classe média, e estudantes, em especial, universitários e pré-universitários, muito poucos, na altura, entre os arouquenses. Frequentei, esporadicamente, as instalações da Associação, de cariz recreativo e cultural, ainda estudante. Era um espaço agradável e cuidado. Bem mais tarde, foi-me dado a conhecer que aí se jogava "forte e feio", ilicitamente, a dinheiro. Apenas voltei àquele espaço, propriedade da Câmara Municipal, para verificar, em representação da Câmara, a situação das instalações. Pouco cuidadas, estavam irreconhecíveis, para pior. A Associação continuou a definhar ao longo do tempo e acabou por fechar. Soube, há semanas, por um dos responsáveis convidados para lhe dar vida, que ia reabrir. Disse-me que com Estatutos actualizados, aberta à entrada de todos, sem qualquer discriminação de sexo, ou outra, para a promoção da recreação e da cultura e com a terminante proibição de quaisquer jogos ilícitos. Se assim for, estão de parabéns e merecem o nosso reconhecimento os que apostam em reanimar um espaço central de convívio útil e à mercê de todos os arouquenses. De contrário, acaso volte o jogo e o vício, deverá ser participada a situação e o Município reaver, para seu uso, as instalações.
|
|
|