LUIS BRANDÃO
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50 anos de muitas vidas
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OPINIÃO | O padre João será, talvez, um dos últimos padres do povo
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Para o ser humano é importante destacar datas e momentos. Assinalar uma data implica olhar o que a originou, o que significa e tudo quanto se desenrolou desde então. Estes momentos fazem parte da construção cultural e comunitária e permitem preservar tradições, construções coletivas ou até mitos sociais. Assinalamos dias que marcaram a nossa vida pessoal e coletiva: aniversários, conquistas ou até o luto. Assinalamos épocas do ano: o Natal, a Páscoa (que, como já aqui escrevi, marca também de maneira indireta o solstício de verão) ou as Colheitas (em Arouca um conceito com dupla aceção). E assinalamos aí também pessoas, homenageando-as. Comemorar é um processo social e individual importante. No passado mês, na freguesia de Tropeço, assinalaram-se os 50 anos desde que o padre João Almeida assumiu a liderança espiritual da paróquia. Celebrar esta data é um momento essencial de agradecimento e é também uma oportunidade para reconhecer a importância e o impacto que o padre João teve e tem na comunidade. São 50 anos de serviço dedicado, atento e próximo. São 50 anos que evidenciam a forma abnegada com que o padre João se deu à sua comunidade. São 50 anos que importa celebrar, sendo esta uma justa (e pequena) retribuição da comunidade. São 50 anos a que se seguirão mais. O padre João será, talvez, um dos últimos padres do povo. Um homem que tocou muitas vidas. Alguém que conhece rua por rua, casa por casa, porta por porta a sua paróquia. Alguém que sabe qual a porta de serventia de cada lar, que sabe as relações familiares da freguesia e o nome de cada pessoa. Alguém que vive junto das pessoas e partilha as suas necessidades. Esta proximidade é única, fruto de 50 anos de serviço e ligação local, que muito se deve celebrar. Na sua vida e no seu serviço o padre João sempre fez por não distinguir nem segregar. Soube liderar no silêncio e pelo exemplo, bem como soube manter calma e serenidade em momentos mais conturbados. Além disso, com um sentimento raro e assinalável de inclusão, sempre acolheu todos quantos procuraram por si. Embora este seja, hoje, um desígnio transversal da igreja, é sempre bom reconhecer quem sempre o fez. Num registo mais pessoal, associo-me, na medida possível, à celebração dos 50 anos de serviço à comunidade de Tropeço do padre João e quero deixar o meu reconhecimento pessoal a este ser humano verdadeiramente bom e verdadeiramente inigualável. Foi (e é) alguém marcante na minha construção pessoal e espiritual. Reconhecê-lo, à semelhança de celebrar uma data ou um dado momento, é um passo importante para a construção pessoal e social.A ouvir: Álbum Desh (2012) - Jocelyn Pook [1960-] Em 2012 o célebre coreógrafo e performer Akram Khan construiu o trabalho Desh, inspirado na sua terra natal, o Bangladesh. O trabalho é uma busca pelas origens de Akram e pelas suas inspirações. É também um pequeno espaço de meditações. A performance contou com a colaboração do artista visual chinês Timmy Yip, do designer de luz americano Michael Hulls, do escritor e poeta indiano Karthika Nair e da compositora inglesa Jocelyn Pook. Este álbum de Jocelyn Pook resulta das composições para este projeto. É abrangente, introspetivo e nota-se nele a influência de muitos lugares e contextos. Ouvir este trabalho é quase perceber um mundo globalizado e, em simultâneo, uma pequena comunidade em funcionamento. Nele há espiritualidade, contraste, identidade, alegria, tristeza e saudade.
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