CÁTIA CARDOSO
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A importância das biblioteca públicas
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OPINIÃO | Nenhum poder político de bem pode compactuar com a ignorância
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As bibliotecas públicas são um importante contributo para a democratização cultural, no sentido de possibilitar o conhecimento a toda a comunidade, independentemente das suas condições socioeconómicas. Cumprem um serviço público nas áreas da cultura e da educação assaz relevante. Em 2018, num artigo intitulado "O contributo das bibliotecas públicas para a efetivação da democracia cultural", Rui Matoso dava nota da existência "cerca de 303 bibliotecas municipais, com valências gratuitas para os utilizadores, como, entre outros, acesso à internet, requisição de livros e suportes audiovisuais". Estes espaços, sustenta o autor, contribuem para exclusão social e para a vitalidade cultural das localidades onde se encontram. Segundo Rui Matoso, "a Biblioteca deve assumir-se como centro nevrálgico e energético da sapiência em todas as suas vertentes, da ética à estética e à política". O contacto com o conhecimento fomenta o espírito crítico. Cidadãos mais informados são mais atentos e construtivos, percecionam os seus direitos com facilidade, bem como os seus deveres, são capazes de identificar problemas, na comunidade, e de procurar soluções que os mitiguem. Nenhum poder político de bem pode compactuar com a ignorância. Limitar o conhecimento apenas a alguns, numa comunidade, seria ignorância daqueles que têm ao seu alcance mecanismos culturais e os vedam dos outros. Em Arouca, a Biblioteca Municipal é um espaço de conhecimento que permite aos cidadãos a libertação da ignorância e a aquisição de pensamentos e reflexões - portanto, um crescimento intelectual acessível a todas as pessoas. Pela sua pertinência para o meio em que se encontra, nenhuma biblioteca jamais poderá satisfazer em plenitude as necessidades, os interesses e as ambições da totalidade do seu público. Podemos - e, na maioria das vezes, devemos - exigir sempre mais, especialmente quando se trata de educação e de cultura, as a bases de desenvolvimento da sociedade e do cidadão enquanto indivíduo. Em Arouca, não se verificam - nem se almejam - exceções. É também nestes e com estes equipamentos que se devem desenvolver políticas culturais municipais destinadas a todas as gerações, envolvendo todas as gerações. Voltando ao artigo de Rui Matoso, partilhamos as suas "ideias que possam funcionar como estratégias de dinamização sociocultural dos municípios, através das bibliotecas": 1) criação de centros de documentação e redes de conhecimento local em parceria com entidades culturais; 2) desenvolvimento de atividades que promovem a literacia visual, digital e tecnológica; 3) favorecimento e acolhimento de iniciativas cidadãs tais como propostas de programação e de projetos complementares às áreas de intervenção da biblioteca; 4) incentivo através de meios e recursos logísticos à realização de atividades "alternativas" de produção de conhecimentos críticos (oficinas, laboratórios, concursos literários, ciclos de cinema, residências artísticas que promovam cruzamentos disciplinares, clubes de leitura encenada e gravação de projetos sonoros e audiovisuais); 5) dinamização do espaço público urbano através da organização de feiras do livro e publicações pulverizadas pelos bairros, bibliotecas de rua, colaboração e incentivo às outras artes no espaço público (performances visuais, etc). Sabemos que algumas destas ideias estão ou já estiveram em vigor na Biblioteca Municipal de Arouca ou com a sua colaboração, mas outras podem voltar (como a feira do livro!!) e outras ainda poder-se-iam inaugurar. A biblioteca deve estar ao serviço do povo, refletindo a sua cultura (popular) e permitindo-lhe o acesso a todas as outras (de massa, erudita, etc). E, além disso, a democratização da cultura deve ser encarada como solução e jamais como obstáculo ao desenvolvimento de uma comunidade (por exemplo, municipal) e da sociedade (de forma geral).
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