«Adoro escolas, todas as escolas!». Foi com este sentimento entusiasta que Manuel Sobrinho Simões, Professor Catedrático da Universidade do Porto, encerrou as VI Jornadas de Ciência de Arouca, um evento de referência na promoção do conhecimento científico e tecnológico que juntou no anfiteatro da Loja Interativa de Turismo conceituados cientistas e investigadores de universidades e institutos nacionais e estrangeiros e alunos das escolas arouquenses. De 16 a 17 de Dezembro, a edição 2022 das Jornadas de Ciência de Arouca resultou, mais uma vez, da parceria cultural e institucional entre os Agrupamentos de Escolas de Arouca e de Escariz, o Círculo Cultura e Democracia e o Município de Arouca, com o apoio do Centro de Formação de Associação de Escolas dos concelhos de Arouca, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis-AVCOA.
Parcerias que resultam
Os elogios à forma, ao conteúdo e aos objectivos da dupla jornada dedicada à Ciência - «um trabalho fantástico de articulação» - marcaram as intervenções dos representantes das organizações responsáveis pela iniciativa, Amélia Rodrigues (directora do AE de Arouca), Vitor Venceslau (director do AE de Escariz), Marta Duarte (coordenadora do Círculo Cultura e Democracia), Margarida Belém (presidente da Câmara Municipal de Arouca) e José Rosa (director do Centro de Formação AVCOA). Instituídas em 2015, as Jornadas de Ciência de Arouca abordam os diversos temas e problemas da cultura científica e tecnológica. «Iniciativas como estas são uma mais-valia para as aprendizagens dos alunos e para a sua formação enquanto cidadãos», sublinhou a organização, que destacou ainda o envolvimento dos professores Manuel Sobrinho Simões, Jorge Gonçalves e Glória Regina Tavares e da engenheira Marta Duarte na realização do evento.
Sob a moderação de alunos e professores dos dois agrupamentos escolares e do Centro Cultura e Democracia, três painéis temáticos, introduzidos por trabalhos de pesquisa dos alunos, foram desenvolvidos por oito especialistas e investigadores de diversas áreas científicas, compondo um programa alargado e rico na variedade de problemas, conceitos e perspectivas.
Aprender com os grandes especialistas
No painel de abertura - “Relações com o desconhecido” -, Sérgio Sousa, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciência do Espaço, actualizou os conhecimentos já conquistados pela ciência sobre o mundo para além da Terra, uma imensidão que é por isso mesmo uma inquietação para humanos num planeta em crise. De volta a um planeta cada vez mais movimentado, Carlos Nolasco, investigador no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, traçou os dados, o perfil e as implicações das crescentes migrações humanas, inclusive as do futebol português, em que é especialista. Coube a Jorge Gonçalves, conterrâneo da freguesia de Moldes, Professor Catedrático da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e um dos impulsionadores das ‘Jornadas’, explorar os mecanismos de defesa na nossa luta contra agentes “estranhos” invisíveis, perigosos e infecciosos do organismo.
Saúde, medicamentos e inteligência artificial
A área da Saúde dominou o segundo painel – “Do problema à proposta de soluções”. Foi o que fez uma das maiores autoridades na matéria, o Professor Catedrático e Presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Henrique Barros, ao apontar os grandes desafios da saúde no século XXI, mormente os de como superar as desigualdades entre indivíduos, comunidades e países. Dos planos para os medicamentos, Félix Carvalho, Professor Catedrático, com funções no INFARMED e responsável do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, explicou o longo e rigoroso processo de produção e aprovação dos medicamentos, “o longo processo para as curas” habitualmente desconhecido do grande público. As potencialidades da Inteligência Artificial fecharam a tarde, numa abordagem promovida por João Lourenço Silva, engenheiro electrotécnico e de computadores, investigador no Instituto Superior Técnico INESC-ID.
Energias, sociedade e trabalho
“A sociedade pós-combustíveis fósseis” foi o mote do terceiro e último painel das jornadas de Arouca. A necessidade de mudança de paradigma relativamente aos dispositivos de armazenamento de energia foi apontada pela arouquense Beatriz Maia, investigadora no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial. Mudanças de paradigma e desafios que se estendem também à organização da sociedade e do trabalho, um assunto contemporâneo urgente que o especialista Manuel Carvalho da Silva, actual coordenador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Protecção Social e ex-líder da CGTP-Intersindical Nacional, retralaquo;Um arouquense de Cabreiros que é também um homem de cultura, de resiliência e determinação», enalteceu a presidente da Câmara Municipal, Margarida Belém, na abertura de uma sessão que teve ao lado do autor a Secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, também ela uma resiliente, capaz de atingir um cargo do Estado apesar da sua deficiência visual de nascença. Um evento literário integrado no Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação, explicou a autarca.
A apresentação foi servida por uma amiga do autor, a professora vizelense, especializada em Literatura, Conceição Lima. "Do Raiar ao Crepúsculo" é a inevitabilidade do ciclo da vida. Mas não a qualquer preço. «Fazer poesia é uma terapia da própria vida», recordou a apresentadora para, a seguir, tirar um retrato bem-disposto do seu amigo arouquense.
Conceição Lima: «É um jardineiro das palavras»
«Se tivesse de associar o Fernando a um objecto, diria que ele é uma esponja: ele consegue absorver tudo, traz para a poesia tudo o que vive, momentos, lendas, valores, humor, solidariedade, cidadania... verte para as palavras a sua própria maneira de ser.» «Diria que é também um jardineiro das palavras: o Fernando zela pelas palavras, aduba-as, rega-as», prosseguiu Conceição Lima, chamando-o ainda de «artesão das palavras» e de «fino humorista». Porque dos seus versos brota sempre a força da «autenticidade e da intencionalidade», muitas vezes condimentada pela «arte de abordar a vida e a pseudocidadania de forma crítica», rematou a apresentadora, que declamou ainda alguns dos mais notáveis versos do autor nascido em terras arouquenses.
«Sou cego, mas vejo longe»
Mostrando-se também ele um declamador exímio, Fernando Martins Alves não teve medo das palavras, mesmo convivendo com a cegueira e com o avançar da idade: «Eu sou o que sou. Sou cego, mas vejo longe. Vejo para dentro e vejo para fora.». Mais houve, mais se pode descobrir no livro de 140 páginas editado pela Euedito. Um profundo exemplo de cultura, resiliência e inclusão. Criador de poemas e compositor, um arouquense apaixonado pela arte, pela vida e pelas memórias da sua terra embrenhada nas serranias de Arouca, onde, recordou o próprio, o lobo uivava, criando fascínio e temor. No final, de acordeão entre os braços, Fernando Martins Alves acabou feliz, em dueto com o seu amigo e músico portuense Vitor José. 2023-05-28 Manuel Matos Sousa/RV (texto e fotos)